Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder
Martin Luther King Junior
Ao conversar com um amigo, ele me deu sua opinião sobre o blog e sobre o fato de duas personalidades tão diferentes o construírem. E assim nos classificou: "Fabiana - hedonista e Aline - sonhadora". Fiquei um tanto perplexa diante de sua classificação. Mas acredito que, em parte, ele tenha razão. O wikepedia assim define o hedonismo: “hedonismo (do grego hedonê, que significa prazer) é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.” Bem, se esta fosse a única definição de hedonismo eu não teria aceitado a opinião de meu estimado meu amigo (a quem devo respeito por sua sensibilidade e inteligência).
Busquei em outros textos explicações em torno de seu significado e vi que o hedonismo pode ser uma forma de sair de uma existência monótona e não criadora. Que uma pessoa hedonista preocupa-se com o outro, e que sua felicidade pessoal implica a felicidade dos outros. Este é um hedonismo que nega a vida triste e de sofrimento como algo adquirido, mas que vê este sofrimento e esta tristeza como grilhões que o homem deve quebrar. Ser hedonista é buscar a beleza em todas as coisas, desde as grandes obras ao mais simples movimento de uma folha ao vento. Bem, sob esta ótica, sim, considero-me uma pessoa hedonista.
Muitas visões sobre esta filosofia estão sobre a palavra prazer. Eu, Fabiana, acredito que os prazeres da vida são a melhor forma de curti-la. Mas tenho plena consciência de que a felicidade não está aí. Ainda não sei realmente o que é felicidade, às vezes a confundo com paz de espírito, mas jamais com prazer. Na minha concepção, a pessoa que busca no prazer, a tal felicidade, tende a surtar. Ou se isto não acontecer, ela é, no mínimo, superficial, e de fato nem reconhece a sua falsa felicidade. A minha consciência de que, assim como “a beleza morre na beleza”, o prazer, também “morre” no prazer, não me deixa deslumbrar em torno de ilusões que nos traz à realidade iminente, e que é dura.
Não escrevo aqui para ditar o que é certo ou o que é errado, e nem muito menos descrever a tão sonhada “receita da felicidade”. Mas diante de um mundo tão cheio de problemas eu, euzinha, opto pelo prazer como forma de catarse e de reconhecimento de pequenas ou grandes maravilhas. Aprecio o barulho da chuva, a dança do vento, o cheiro de terra molhada, o sorriso de um ser humano conhecido ou desconhecido, a gratidão de um ser amado. Opto por alegrar-me com um pequeno agrado, por agradar alguém, com a beleza das flores, encantar-me com o pôr-do-sol, comer um brigadeiro de panela assistindo a um programa bobo de TV. Ah, mas desfruto intensamente de uma noite regada à bebida e música eletrônica, de um passeio de lancha no lago, de um hotel de luxo em qualquer lugar deste mundo, de comer o que há de melhor, de apreciar o design moderno de ambientes e as maravilhas feitas por artistas reconhecidos (ou não). Como é bom ver e sentir a beleza e ter prazer nas coisas, das mais simples ao que se há de mais “supérfluo”, e o melhor, ter consciência de seu começo, meio e fim.
A vida pós-moderna exige muito da gente: competitividade, ganhar dinheiro, ficar linda o tempo todo... Ufa! Tudo isso gera muita angústia, ansiedade, dor, até chegar na tal depressão. E é por isso que busco olhar a vida com mais simplicidade e sensibilidade. Se isso tudo que falei estiver encaixado no que se refere aos prazeres da vida, posso escrever em um rótulo (que nossa sociedade adora) e pregar no peito: Sim, sou hedonista! Mas ainda acredito que o mais belo da vida esteja no verdadeiro e íntimo sentimento humano.
Ser hedonista pode não ser um caminho para a felicidade, mas com certeza um grande atrevimento em busca do bem-estar. Lembrando: bem-estar, este, passageiro, mas deliciosamente intenso.
Fabiana Carvalho