domingo, 31 de janeiro de 2010

A tal da química...



Eu tenho um álbum no meu orkut em que coloco figuras que gosto ou que tenham algum significado para mim. Encontrei neste blog, um espaço para justificar o apreço por elas. Quando estive em Madrid, com minha irmã Etiene, após visitas em alguns museus, deparei-me com um quadro aparentemente tolo. Digo isso porque já questionei o valor de quadros abstratos. Quando era mais nova não conseguia entender como obras com rabiscos ou um monte de coisas sem sentido custassem milhões e fizessem tanto sucesso. Com a idade chegando e o espírito questionador fazendo-se cada vez mais presente, venho buscando "entender" sobre as mais diversas formas de manifestações artísticas movidas pela alma e pelo coração.

Voltemos ao quadro... Fiquei tentada a entender o porquê, depois de tantos "Dalís", "Picassos", Mirós", "Van Goghs" e outros famosos, de me deparar com um quadro que só tem quadrados coloridos levando a assinatura de Mondrian, fazer encher os meus olhos de lágrimas e sentir arrepiaços pelo corpo. "Por que? Por que?", questionava-me em silêncio. Imaginava que não deveria ser daquela forma... O certo seria emocionar-me com Guernica e não com este quadro cheio de quadrados. Acho que encontrei uma justificativa. "Bateu a química"... Isso mesmo "Q-U-Í-M-I-C-A". Sabe aquela coisa que se sente por alguma pessoa que está longe de ser a que possui os requisitos justificáveis para admirá-la. Longe de ser reconhecida por seus dotes estéticos ou gosto musical, ou modo de viver e outras coisas que avaliamos até afirmar que esta pessoa mereça o título "interessante".

Então, a química entra aí pra complicar nossa vida, pois é tão fácil sentí-la, mas tão difícil justificá-la ou até mesmo desvencilhá-la do nosso dia-a-dia. Até porque ela nos cutuca e diz, "ei, aí tem algo de especial", e a forma que ela "diz" é tão invasiva e forte que nos faz perder o domínio do próprio corpo, do que se fala, do que se pensa e da forma correta de agir.

Mesmo assim, não concebi a ideia de sentir algo tão forte por algo que me soasse bobo à primeira vista. Busquei entender, como em tudo que já vivi e que de alguma forma a química esteve presente. Para a minha felicidade, sim, havia algo de especial alí.

Busquei no google e encontrei uma frase de Mondrian em relação ao quadro. Ele disse: "Quadrados? Eu não vejo quadrados em minhas obras". Ah, ele disse tudo. Havia alí inconstância, força, assimetria e muita coisa que não consegui ver, mas consegui sentir.

É por isso que abomino rótulos. A sociedade adora rótulos. Acho que tudo o que se vê esconde uma enxurrada de surpresas, e só conseguem enxergar de verdade, aqueles dispostos à enfrentar a danada e ousada química e desafiá-la a responder o porquê. Tente. Ela te responde.

É inesquecível.

Fabiana Carvalho

"Squares? I see no squares in my pictures"
Mondrian


Pra quem quiser "Mondrianiar", segue um link interressante divulgado no twitter do Museu de Arte Moderna de Nova York:

http://www.compositionwithjavascript.com/

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Amor e cultura


Foto: Fabiana Carvalho



Em uma viagem a trabalho, no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer uma linda casa e sua romântica história: a Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpo. Um lugar tão charmoso, tão feminino e delicado, que foi impossível passar batido e não registrar aqui um pouco de sua história e o ar de romantismo que paira sobre o belo palacete. O cenário composto por um longo tapete vermelho sobre as escadarias, grandes arranjos de rosas vermelhas, objetos (relógios, castiçais, cadeiras, torneiras) banhadas a ouro, lustres em cristais, e mesas elegantemente “aprontadas” para o jantar com diversos talheres e copos (lembrando sempre da regrinha do “de fora para dentro”) deu aquele “cutucão” no mais íntimo da alma feminina.

Senti-me como em um filme, talvez “Romeu e Julieta” ou até mesmo o piegas, porém não menos romântico, “Titanic”. Curiosa, fui saber sobre a história daquela casa. Ela foi construída em 1920 e “diz-se” fruto de uma história de amor. Apaixonado pela mulher, Demócrito Latigau, de importante família de comerciantes da época, quis dar de presente à sua esposa, Maria José, a mais bela casa do Rio de Janeiro. Contratou um arquiteto francês e, da mesma forma, mandou vir da Europa todas as peças de acabamento como “parquets”, vitrôs, portais e etc.

Após a morte do casal e do filho mais velho, a casa foi tombada pelo departamento de patrimônio e cultura da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. O educador e antiquário João Carlos de Serpo se interessou pelo palacete, comprando-o em 2002, para instalar a casa de cultura, dando-lhe o nome de sua mãe, Julieta de Serpa. Hoje acontecem diversos eventos, principalmente na área de educação e cultura.

Tive o prazer de fotografá-la e carregar comigo a sensação de fazer parte daquela história de amor.

E para não perder o costume, fechemos com um belo e intrigante dizer. Este, retirado do parágrafo “Tudo se ilumina”, de Jonathan Safran Foer (2003):

“Dê-me amor, pois o amor não existe, e eu já experimentei tudo que existe”.

Fabiana Carvalho

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


“Digo às borboletas alvoroçadas de meu estômago:
- Acalmecem-se! Sabemos bem o que esta confusão pode causar...”

Fabiana Carvalho


Preto no Branco



A escolha da figura do topo do blog, aquela lá, preta e branca com borboletas, foi uma árdua tarefa; quanta pesquisa! Achamos figuras em movimento, figuras lindas e megacoloridas, fotos emotivas... Tão difícil escolher uma foto pra "abrir" o nosso recanto virtual!

Queríamos um significado. Mas, logo eu que adoro cores, repousei-me no pretinho básico e seu parceiro, resultado da soma de todas as cores: o branco. A cor da paz, pois queremos paz. Bandeira branca para as dores, intrigas e confusões, internas e externas. Com o "preto e branco" não teria erro, assim imaginamos.

O "preto e branco" é como o pretinho básico do armário feminino, peça chave para qualquer ocasião. Tá, mas podemos viajar ainda mais: o preto e o branco, cores tão diferentes e tão complementares, como nós, como a nossa amizade. Ah, "preto e branco", combinação tão silenciosa e tão gritante ao mesmo tempo. Tá bom, confesso que assim somos também. Tenho inveja dele, pois esbanja elegância, é suntuoso.

Há também os famosos "tiltes" em preto e branco. Confesso que, de vez em quando, saio do ar com grandes ruídos e pequenos pontinhos pretos como na tela branca e preta de TV antiga. E porque não falar em luto, aí o preto toma conta! Mas, isso faz parte do processo existencial, assim como o encerramento de ciclos merecem o luto e por aí vai.

Mas, falemos de vida, de borboletas... Lá estão elas, lindas e imponentes, no canto direito da figura. Nossa, são duas! Coincidência ou não, somos nós! (Almas protagonistas do blog). Em sua simbologia, "borboleta" pode significar: transformação, alma, libertação, sorte, sensualidade, psiquê. Elas podem representar os nossos vôos, pois somos livres, mutantes.... Em constante metamorfose.

O que falar dos ramos da figura? Estes são a continuidade, porque continuar é preciso e é assim que construímos a nossa história. Enfim, que essas borboletas voem, voem, voem... alto! Repousem, transformem e tranformem-se.

Fabiana Carvalho..

Orgulhosamente apresentamos...





Este é o ato inaugural do blog e, talvez, o mais difícil. Ou será escrever um blog com a nossa cara? Esta é a proposta de duas amigas, com perfis tão diferentes, mas com dúvidas, medos e inseguranças tão profundos e tão iguais: uma (Fabiana) tão extrovertida, alegre, moderna e impulsiva; outra (Aline), romântica, sincera, leal, mas também impulsiva. Escrever aqui o que queremos, o que sentimos, as nossas alegrias e as nossas tristezas. E por que não falar mentiras?! Escrever sobre tudo aquilo em que acreditamos, uma tarefa tão difícil quanto solucionar as questões que aqui serão colocadas por nós, para nós e para quem queira se aventurar neste universo que não é apenas nosso. Escrever e conseguir dizer? Escrever é "galaxioso"! Não sabemos o que ou quem atingiremos. Há intenção e não há intenção. Escrever acontece.


Aline Espíndola e Fabiana Carvalho

"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas". Clarice Lispector