quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Delta de Vênus


Ainda “no clima” da leitura do livro anterior, engatei em “Delta de Vênus”, da mesma autora, e que, na minha opinião, seguem linhas bem diferentes. A começar pelo primeiro capítulo, que trata de incesto, seguido de capítulos não menos chocantes, tratando de tabus, sem o menor pudor (lembrando que o livro foi escrito na década de 40) como: pedofilia, prostituição, voyerismo, orgia, sadismo, virgindade, hermafroditismo e por aí vai.

Uma leitura pesada, mas cheia de magia.
A própria Anais, assim se descreve: “Eu era a cafetina de uma presunçosa casa de prostituição literária, de onde a vulgaridade estava excluída.” A parte que mais gostei foi da introdução que faz uma análise do sexo e de como ele pode ser explorado em todos os seus aspectos, tudo isso em uma carta, cheia de raiva, que Anais Nin envia ao “encomendador” de seus contos que queria “sexo sem poesia”:

“O sexo perde todo o seu poder e sua magia quando se torna explícito, mecânico, exagerado, quando se torna uma obsessão mecanizada. Fica enfadonho. Você nos ensinou mais do que qualquer outra pessoa que eu conheça como é errado não misturar sexo com emoção, fome, desejo, luxúria, caprichos, laços pessoais, relações mais profundas que modificam sua cor, seu gosto, seu ritmo e sua intensidade. Você não sabe o que está perdendo com seu exame microscópico da atividade sexual a ponto de excluir aspectos que são o combustível que lhe ateiam fogo. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional.”

“(...) O sexo não floresce na monotonia. Sem sentimento, invenções, variações de humor, nada de surpresas na cama. O sexo deve ser misturado com lágrimas, risadas, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao exterior, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho (...)”

“Quanta amplitude, quantas mudanças de idade, quantas variações de maturidade e inocência, perversidade e arte.”

"Somente o pulsar unido do sexo e do coração pode criar o êxtase.”

Sem mais.

(Fabiana Carvalho)



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Anaïs Nin




Anaïs Nin foi uma escritora francesa que polemizou sua época ao escrever suas obras permeadas de erotismo e ao abordar tabus em torno da sexualidade feminina. Ela nasceu na França em 1903, viveu durante anos em Nova York, retornando à Europa na década de 30. Foi discípula das descobertas psicanalíticas, e precursora do feminismo e da revolução sexual.

“Eu escolho um homem
que não duvide de minha coragem
que não me acredite inocente
que tenha a coragem
de me tratar como uma mulher.”


“Subtraia a superintensidade, o chiado das idéias, e você tem uma mulher que ama a perfeição.”


“Estou tão sedenta do maravilhoso que só o maravilhoso tem poder sobre mim. Qualquer coisa que não pode se transformar em algo maravilhoso, eu deixo ir.”

“Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.”

Anaïs Nin



Ainda não li os outros livros desta escritora surpreendentemente à frente de seu tempo, mas indico o que acabo de ler: “Uma espiã na casa do amor”. Sabina é a protagonista deste romance, uma mulher dividida entre os arroubos da realização artística, as suas fantasias sexuais, e as restrições e exigências sociais.

Ao mesmo tempo em que faz descobertas de ordem sexual e sentimental, ela experimenta até que ponto é possível libertar-se sem ter que enfrentar sérias conseqüências.


Trechos do livro:
“Mas então ela sempre preferira a noite ao dia. O luar caía diretamente sobre sua cama no verão. Ela ficava deitada nua ao luar, durante horas, antes de cair no sono, perguntando-se o que seus raios iriam fazer-lhe à pele, ao cabelo, aos olhos e, depois, mais profundamente, aos sentimentos.
(...)
Isso acentuava-lhe o amor ao mistério. Ela meditava sobre este planeta, que mantinha metade de si no escuro. Sentia-se ligada a ele porque era o planeta dos amantes. A atração que sentia por ele, o desejo de banhar-se em seus raios explicavam sua repulsa a ter um lar, marido e filhos. Começou a imaginar que conhecia a vida que tinha lugar na lua. Sem lar, sem filhos, com amantes livres, nem mesmo ligados um ao outro.”


“As carícias da noite anterior haviam sido intensamente maravilhosas, como todas as chamas multicolores de um engenhoso fogo de artifício, irrupções de sóis e néons explodindo no interior do corpo, velozes cometas dirigidos a todos os centros de prazer, estrelas cadentes de profundas alegrias..."

(Fabiana Carvalho)