sexta-feira, 12 de março de 2010

Deja vu




Hoje resolvi escrever porque, assim como Clarice, "quando eu não caibo em mim, me explodo em palavras”. Às vezes não há motivos grandiosos que me façam escrever. Motivos simples que me cutucam e fazem-me refletir sobre certas coisas da vida, sem explicação. Às vezes penso que estou velha e que tenho experiência demais, e vem em mim a impressão de que tudo se repete. No entanto, pasmo ao ver minha mãe dizer: “minha filha, e eu que achava que já tinha visto de tudo nesta vida”. Confesso que esta frase me estimula a viver. Canso-me de meus próprios erros, da repetição dos meus comportamentos já sabendo dos resultados que eles me induzem.

Mas agora quero falar do comportamento alheio. Pior do que os próprios comportamentos errados é o de enxergá-los nas pessoas que gosto e que escolhera para fazer parte de minha vida. Baseada, ou até mesmo consolada naquela velha frase “quem está de fora vê melhor”, às vezes, sinto-me uma bruxa, ou seria uma diretora de cinema vencedora de Oscar? Diretora de vários filmes até. Uns que já atingiram recorde de bilheteria e outros que ainda atingirão. E me vejo, eu, euzinha, no papel de “diretora” com o ”gran finale” nas mãos, já o sabendo de cor e salteado antes mesmo de exibi-lo na grande estreia. Drama, suspense, comédia, ação, injustiça, sexo, paixões e tudo o que tenha direito, sendo exibido ali, na minha frente e com uma plateia inquieta ávida por acontecimentos.

E os efeitos especiais? Ah, estes filmes têm tecnologias mais avançadas que Avatar. Mais intrigantes que Matrix no que diz respeito à percepção da realidade. E a pergunta que não se cala: onde é que eu me encontro em todas estas estórias? Pandora? Realidade virtual? Paralela? Realidade inexistente? Realidade criada? Ilusão? Não sei. O que sei é que não quero ser coadjuvante. Doa a quem doer. (Hum, acho que virei atriz). Tá, mas prefiro ser diretora e assistir a tudo isso.

Ser diretora não é nada fácil. Talvez eu tenha vocação pra coisa e não tenha despertado pra isto. Afinal sentir, prever, alertar, compreender (mesmo contrariada) e erguer sem muito orgulho e com grande pesar (diferentemente da arquibancada de futebol) uma placa escrita: “eu já sabia”, não é tarefa tão simples. Parabéns Wood Allen, Almodóvar e afins. Não sei se meu coração suportaria.

Este mês fui “golpeada” por umas três situações best movies. “Eu já sabia”, “eu já sabia”e pra finalizar a trilogia: “EU JÁ SABIA”. Em caixa alta. Na terceira situação o final ainda não se fechou. Mas tenho o script em mãos. E como todo bom diretor, desta vez, vou guardá-lo para mim. Guardo também minhas emoções. Agora não o levarei nem para a realidade Matrix, ou Avatar (onde fico avulsa ou deslocada sem saber ao certo onde eu me encaixo). Vou guardá-lo para mim. Somente para mim. E, quando oportuno, levanto a plaquinha “Eu já sabia!”. E sigo minha vida dando "replay".

Acho que essas plaquinhas apesar de não mudarem os fatos, aliviam um pouco meu coração diante de situações “fucking Deja vu”. ; )

"Não há dúvida:
Pensar me irrita,
pois antes de
começar a pensar,
eu sabia muito
bem o que eu sabia."
Clarice Lispector



(Fabiana Carvalho)

3 comentários:

  1. Aff, e eu estou aqui morta de curiosidade!!!
    "Mas o que será que a Bibinha já sabia, já sabia, já sabia???"
    Hahhahahahah
    Amooooooooo!

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