quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A metonímia do ser


Recebi um e-mail de uma amiga, Vanessa, em que ela colocou alguns trechos do livro Intimidade, do Osho:

"(...) O ser tem dois lados, o interior e o exterior. O interior não pode ser público.... Isso acontece às pessoas que levam uma vida pública, perdem completamente o seu interior, eles não sabem quem são, a menos que o público fale sobre eles. Eles dependem da opinião dos outros, não têm o sentimento do próprio ser. Uma das mais famosas atrizes, Marilyn Monroe, cometeu suicídio, e os psicanalistas têm meditado sobre os motivos para isso. Ela era uma das mulheres mais lindas que já existiram, uma das mais bem-sucedidas. Até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Kennedy, estava apaixonado por ela, e milhões de pessoas a amavam. Não se pode pensar no que mais se possa ter. Ela tinha tudo. Mas ela era pública e sabia disso. Até mesmo na alcova, quando o presidente Kennedy a visitava, ela costumava chamá-lo de "Sr. Presidente" - como se estivesse tendo relações não com um homem, mas com uma instituição. Ela era uma instituição. Pouco a pouco, ela tomou consciência de que não tinha nada de privado. Eu acho que ela cometeu suicídio porque essa era a única coisa que poderia ter feito em particular. Tudo era público, essa foi a única coisa que sobrou para fazer por conta própria, sozinha, algo absolutamente íntimo e secreto. As personagens públicas são sempre atraídas para o suicídio porque apenas por meio do suicídio elas podem ter um vislumbre de quem são”.

Mesmo não sendo estrela, longe de ter a estonteante beleza da Marylin, acho que entendo um pouco o que sentia. Se para nós, meros mortais, é tão difícil aceitar a opinião alheia sobre parte de nós, que insiste em cegar a visão de conjunto, imaginem só para um ser público. Marylin esbanjava energia, glamour, sexualidade, mas sempre que podia, tentava falar dos seus verdadeiros sentimentos e de sua angústia. O que ela acabou tendo que aprender para sustentar o seu sucesso, era que essas opiniões não importavam ao mundo. Mas o que ela esqueceu de aprender, na minha opinião, foi de reconhecer para si mesma a validade dos outros atributos que tinha.

Ao amadurecer, vamos percebendo o quanto é importante sabermos de nós mesmos, porque, como demonstrado no texto de Osho, o que a gente acaba acreditando é no que os outros dizem. E, se deixarmos assim, a “parte” do "todo" acaba por camuflar o que temos de mais importante e, talvez, mais verdadeiro.

Faz parte da evolução e da valorização do indivíduo a busca pelo autorreconhecimento, sem a transferência total desta responsabilidade.

(Fabiana Carvalho)

Um comentário:

  1. É como dizia o texto da prova do MPU (hahaha): enquanto indivíduos, somos coletivos e mesmo na coletividade não perdemos nossa unicidade... ou algo do tipo! Aliás, essa frase que acabei de elaborar ficou bem melhor que a original do texto, rsrs.

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