quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos


Ontem assisti, em casa, ao novo filme do Woody Allen que estava em cartaz dias atrás no cinema. Não gostei da tradução que fizeram do título: “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”. Um título desses, eu logo imaginaria Meg Ryan estrelando mais uma daquelas comédias hollywoodianas passatempo, que aliás, eu adoro, mas que não tem nada a ver com o estilo Allen. Ignoraram o sentido significativo do título original: “You will meet a tall dark stranger“, ou seja, “Você vai conhecer um estranho moreno e alto”, uma metáfora para a morte, mas que, também, não despreza o outro significado da frase que remete à incessante busca pela pessoa dos sonhos.

Admiro a versatilidade do autor em conseguir envolver o espectador com personagens de conflitos internos e outros que se mostram negativamente irônicos com o que acontece na vida. Acho até engraçado a forma que expressa seu pessimismo característico e, ainda, a fotografia acinzentada das cidades que reflete em seus filmes. Não são as luzes, a beleza, ou a jogada de cores que nos prendem, mas justamente aquelas imagens comuns, cinzentas e rotineiras que nos afogam em nós mesmos e retratam a dura realidade do que costumamos enfrentar no dia-a-dia das megalópoles.

Allen preocupa-se em conseguir entrelaçar as histórias que conta, juntando os personagens por meio de um fio condutor que, normalmente, vem sendo expressado pelo abstrato, como o amor, a dúvida, o envelhecimento, a dor, a perda, a solidão e a busca pela felicidade.

O filme "Tudo pode dar certo" é um filme extremamente pessoal e eficaz em sua proposta. Aliás, eu amei! "Vicky Cristina Barcelona", então, muito bom! No caso de "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos", Allen se apresenta como um cineasta repetitivo em suas abordagens. Ele cria uma expectativa no início do filme de envolver estas histórias e personagens com as relações complexas que são características da sua filmografia, mas os pontos de virada do seu roteiro não aparecem de fato.

Sem tirar o mérito das reflexões que levanta, acho que o filme termina de uma maneira vaga. É agradável, que é o mínimo que se pode achar de um filme de Woody Allen, mas meio sem-graça. Fiquei com a sensação de “quero mais” do filme. De qualquer forma compartilho com ele o fascínio pela busca infrutífera pelo sentido da vida geradora de tantos conflitos, e ressalto sua capacidade de filmar histórias que relatam a questão humana comportamental como poucos.

(Fabiana Carvalho)

Um comentário:

  1. Adoro suas reviews de filmes! Principalmente antes de vê-los, porque aí já vejo com outro olhar... rs.

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