sexta-feira, 30 de julho de 2010

Comportamento Blasé

Encontrei no dicionário três conceitos de blasé: 1. indiferente, apático, que não demonstra emoção; 2. arrogante, com ares de pompa; 3. cheio de si.

Em uma festa, por exemplo, o blasé observa bocas rindo, cantando, conversando, mas os lábios não se desgrudam. Não demonstram sentimento. Os olhos giram de um lado para o outro, julgando comportamentos. Desligam-se completamente do mundo e começam a habitar um universo paralelo. Ok, essa também é uma forma de ser. E eu aceito sim.

O que me irrita, de fato, é o radicalismo do blasé. Acho que, sabedores de sua autoexigência, de seu refinamento, pecam muito por desconsiderar outras emoções. Eu questiono esse refinamento. Mas, enfim, gosto é gosto. Tenho muitos amigos blasés, e que adoro. Só não gosto quando se colocam de forma radical frente ao mundo e às pessoas. As únicas diferenças que consideram são as próprias. Eles não experimentam. Axé? Não presta. Youtube? Só tem porcaria. Caldas Novas? Farofa. Pode ser verdade, mas já experimentaram? Gostaria que olhassem com menos austeridade os gostos alheios.

Uma pessoa advinda de uma classe social baixa, com pais analfabetos e sem nenhum acesso a outros mundos, não tem culpa de dançar fervorosamente, com a alma, Calypso. E ela sente sim! E não vejo nenhum problema nisso. Eu também danço, e quer saber, não sabem o que estão perdendo. O que “não presta” pode divertir. E divertir também está no rol das formas capazes de nos provocar emoções.

Na “A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera diz “o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado”.

Eu acho importante lembrarmos que o tempo por aqui é muito curto para nossa verificação. Vale darmos atenção especial às nossas emoções sob várias formas. Permita-se.


(Fabiana Carvalho)

2 comentários:

  1. Amiga, tenho que discordar de você, não quando fala da arrogância das pessoas blasés, e sim em relação à experiência (experimentar!). Isto é algo individual, na minha opinião, e não temos que “gostar dos gostos alheios”, mas respeitá-los. Será que quem gosta de axé, de Calypso, por exemplo, está preocupado em experimentar outras coisas tb? É só uma questão de gosto, particular, então? Emoção é algo subjetivo e está ligado a fatores diversos. House e Samba de Raíz, lembra?

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  2. Amiga, concordo literalmente com a questão da subjetividade das emoções, aliás, muito bem colocado. Mas ainda insisto que,para então definirmos se sentiremos ou não emoção, precisamos nos colocar diante de diferentes situações e tentar fugir do "pré-conceito". Eu provei samba, vc já provou raiz, assim "definimos" parte do nosso gosto musical. Bjoo! Fabiana

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