
Aos 24 anos, Kierkegaard quase conseguiu livrar-se de sua herança de culpa e melancolia: foi nessa época que se apaixonou por Regine Olsen, uma bela garota e culta. Noivaram e planejaram um futuro juntos. Dois dias após o noivado, Kierkegaard teve uma misteriosa crise de pânico. Subitamente, o compromisso pareceu-lhe um grande erro – e Soren acabou por repudiar Regine sem qualquer explicação. Até hoje ninguém sabe ao certo por que o filósofo rejeitou a mulher que amava. Alguns opinam que ele pretendia levar uma vida de reflexão pura, na qual haveria pouco espaço para os deveres conjugais. Outros sugerem que Kierkegaard tinha um medo paralisante do sexo, o que tornaria esses deveres conjugais ainda mais assustadores.
Em uma série de artigos publicados na imprensa, lançou ataques à moral protestante, e seu discurso filosófico lhe rendeu a execração pública, coisa de pouca importância para um homem que sempre foi solitário. O único ser humano cuja opinião lhe importava talvez fosse Regine, a mulher que ele continuou amando por toda vida, sem jamais ter coragem de lhe explicar seus confusos sentimentos.
Seja como for, o fato é que Kierkegaard acreditava-se incapaz de levar uma vida normal. Em vez de lamuriar-se, contudo, ele resolveu transformar sua miséria em objeto de reflexão. Se seu destino era a infelicidade, ele seria apaixonadamente infeliz – o que, em todo caso, parecia-lhe mais interessante que ser alegremente tedioso.
Fabiana Carvalho
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